quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O ASSESSOR-MARQUETEIRO

O papel do assessor de comunicação está diretamente ligado ao do profissional de marketing de forma que, persistindo os atuais racionamentos de mão-de-obra e as poucas disposições para investimento em contratação de profissionais realmente competentes, o fenômeno “dudamendocista” se espalha. Muitos, em sanha aventureira ou intrometida, se saem bem, mas alguns, pouco antenados e perspicazes, não prosperam.

Tal qual o grande estimulador da gambiarra bem-sucedida de marketing, o Duda Mendonça - um “semi-analfabeto” no mundo da comunicação até se tornar um fenômeno da publicidade nacional nos anos 90 - muitos assessores engendram planos baseados em seus próprios feelings publicitários. Ainda que desprovidos de técnicas ou de conceitos empíricos, convencem seus clientes de suas estratégias. Há resultados bons, mas muitos acabam desgastados e geralmente não sobrevivem.

No entanto, há os que sabem desempenhar um bom papel inspirados talvez em suas próprias convicções, mas muito cautelosos na divisão de funções e na arte de trabalhar em equipe. Estes, quando descobertos e valorizados, despontam como verdadeiros talentos.

São estes “robinhos” do marketing e suas habilidades comunicacionais os motivos deste comentário. Na várzea das redações, existem milhares de profissionais capazes de impressionar por suas galácticas “pedaladas” publicitárias não aproveitadas ou descobertas por dirigentes ávidos por talentos de quilate - aqueles que conseguem entender o momento, compreender consequências e serem corajosos para aceitar o inaceitável.

Uma parábola: Fidel Castro é o grande imperador de Cuba e seu povo o idolatra (não nos dispersemos, isto é uma parábola!). Ditador ou não, o povo o ama, mas já aceita mudanças e até um eventual ingresso do capitalismo moderado na ilha pode ser bem-vindo. De repente, morre Fidel. Começam disputas internas por uma sucessão que não agrida frontalmente o antigo regime.

Nessa escalada, Obama manda seus homens cooptarem cubanos dispostos a incutirem na mente atrofiada havana a ideia da boa globalização e das vantagens do fim dos embargos comerciais. Para que isso ocorra da forma mais natural possível, busca-se um marqueteiro bom de timing, feeling, insight e outras skills. E o que o “cara” propõe? - Vamos enaltecer o papel de Fidel, suas boas intenções comunistas e a necessidade da preservação da cultura local com implementação de mudanças sensíveis, que atendam aos imediatos anseios cubanos.

Neste contexto, caso a morte do ditador ocorresse anos atrás, sobre a conclusão do marqueteiro de pegada, o que diriam os staffs de Clinton? I think so (humm*, eu acho que sim); de George “Mad” Bush? No way! (de jeito maneira, ochenti!*); ou de Obama? Yes, we can! (Sim, nós podemos, caraca!*).
*grifo meu.

Fim da parábola.

Esse é o perfil ideal de assessor marqueteiro, aquele que fala a verdade sem a insegurança de que sua ótica “radical” o impeça de ganhar o contrato. Há que ser alguém imbuído da valentia de perguntar: quer ganhar o jogo? Aceite as regras, não trapaceie nem subestime o adversário de modo que se consiga conquistar, no mínimo, seu respeito.

Não gosto de idolatrar aquela figura dona de cavanhaque peculiar e de caráter duvidoso, o Duda Mendonça (aliás, ele sumiu desde que seu talento o traiu, fazendo-o esquecer que rinha é uma prática condenável por nossa sociedade e que não se coaduna com a d’um mentor publicitário presidencial). Mas em sua autobiografia Casos & Coisas (São Paulo: Editora Globo, 2001), ele se vangloria de uma atitude corajosa ao advertir Miguel Arraes, em 1998, de que sua eleição para o governo de Pernambuco seria impossível, já que seu adversário, Jarbas Vasconcelos, tinha larga vantagens nas pesquisas, o que se confirmou com a surra nas urnas por uma diferença de mais de um milhão de votos. “Não posso fazer milagre”, disse, antes de fechar o contrato, Duda. E fechou, mesmo antevendo a derrota.

Arraes, morto em agosto de 2005, não quis ouvir a verdade e seguir a recomendação de, ao menos, permanecer bem na vida pública com uma eleição assegurada ao senado, sete anos antes.

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