terça-feira, 6 de outubro de 2009

ADMINISTRANDO CRISES

Nada apavora mais uma figura pública ou executivo de uma empresa do que se ver subitamente às voltas com um escândalo. A natureza não importa, o que interessa é constituir-se num fato, público e comprovável, que colide frontalmente com os valores, sentimentos e opiniões dos cidadãos.

Nestas situações, a censura pública é inevitável, e, dependendo da gravidade do fato, pode variar desde um desgaste recuperável (melhor hipótese) até o limite extremo da execração pública e da destruição da imagem pessoal ou da carreira profissional. A primeira lição a se tirar desta situação é que não há como sair ganhando, ou mesmo incólume, de um escândalo (fato público e comprovável) que recebe ampla cobertura pela mídia.

O objetivo, portanto, é sobreviver ao escândalo nas melhores condições possíveis, dentro das circunstâncias. Tentar “sair por cima” só é possível se o fato que for imputado for manifestamente inverídico e sua inverdade puder ser pronta, cabal e documentadamente comprovada. Se o fato for verídico, comprovável e tornado público, tentar escapar acusando adversários e inimigos de perseguição política não funciona. Se o escândalo está instalado, torna-se matéria de pauta dos jornalistas, os adversários vão repercutir as acusações, e os eleitores ou clientes, tomados de curiosidade, vão seguir os desdobramentos.

É salutar atentar para que um escândalo quando surge num veículo de comunicação é logo assumido por mais veículos. É certo que os jornalistas vão investigar a questão a fundo e produzir matérias sobre ela. Mas também não se deve pensar que a matéria que divulgou o escândalo contém tudo que o jornalista reuniu sobre ela.

É um erro comum o político, por exempo, responder à matéria, contestando-a e negando sua veracidade, de forma imediata à sua divulgação, para ver, no dia seguinte suas declarações desmentidas por novos fatos, novas informações e documentos. Quem assim procede entra em parafuso. Fica na obrigação de a cada dia explicar, corrigir e completar, aquilo que disse no dia anterior, reduzindo sempre mais a sua credibilidade e aumentando a convicção de que as acusações são verídicas.

Quando o escândalo vem à público, o mais provável é que os jornalistas que escrevem sobre ele possuam munições extras, guardadas para uso nos próximos dias. Tanto o jornalista como o seu editor dividem a matéria em partes separadas, para dotá-la de continuidade e para confirmar a ideia de que o escândalo está se espalhando e ganhando consistência. Assim, cada escândalo possui, no mínimo, um “patrocinador” na mídia interessado em levá-lo adiante até onde os fatos e documentos permitirem.

A tentativa de lutar dentro do próprio veículo que divulgou a matéria a fim de demover o editor da continuidade da divulgação é uma queda de braço praticamente infrutífera exceto se houver elementos substanciais para esse ação. Se ainda assim o requerente vier a vencer, o veículo tem de reconhecer seu erro publicamente, nas mesmas páginas. Ora, para um veículo de comunicação reconhecer um erro de informação em matéria desta relevância é o que de pior pode acontecer. É o fantasma que ronda qualquer redação.
Quando isto acontece, cabeças rolam. Divisões internas vêm à tona, a credibilidade do veículo - seu capital mais importante - fica profundamente afetada, mas a vítima do escândalo não sai ganhando. Muito ao contrário. A hostilidade contra ele aumenta (afinal, ele é o causador do problema) e a necessidade de comprovar aqueles fatos divulgados e encontrar outros, leva a redação a um esforço investigativo redobrado.

O reconhecimento do erro, por exigência legal, vai aparecer numa página interna, sem o destaque que as acusações tiveram e, provavelmente, acompanhado ao lado de nova matéria sobre o escândalo, esta sim com visibilidade.
Logo, como não se pode sair ganhando de um escândalo, a meta deve ser a de sobreviver a ele. Para tal, é forçoso dedicar-se ao trabalho de “controle dos danos” para limitar ao mínimo possível os prejuízos. Neste sentido, nada é mais importante do que não mentir.

Quando se analisam os escândalos que ocorrem na política, vemos que, na grande maioria dos casos, não é o fato que provocou o escândalo que destrói a carreira do político, e sim a mentira usada por ele para tentar escapar. Frente à divulgação do escândalo, a primeira reação do político é, compreensivelmente, muito emocional. Ele deseja ter ao alcance da mão, o mais rápido possível, alguma fórmula que sepulte aquele assunto inconveniente. Ele anseia pelo retorno à normalidade, pelo retorno aquele estado anterior à divulgação do escândalo, e se dispõe a adotar qualquer medida que lhe pareça ter o poder de realizar este milagre.

Ocorre que esta medida simplesmente não existe. Se o fato imputado for público e comprovável, algum veículo de comunicação, ou vários, já o pautaram para a produção de matérias, os adversários já os utilizam na sua ação política e a opinião pública, com suas antenas pré-sensibilizadas para escândalos pela cobertura usual dos noticiosos, já está falando sobre o assunto. É neste contexto psico-social, com o assunto sendo divulgado amplamente e com o político acuado, inseguro, sentindo sua imagem e reputação sendo destruídas, que o recurso à mentira se torna atraente, pelo menos para ganhar algum tempo. É como recorrer a uma droga ultra-forte para aliviar a dor. Pode até atenuá-la por algum tempo, mas os efeitos serão desastrosos.

Os homens públicos, em especial, tendem a ter uma baixa resistência para absorver uma situação politicamente embaraçosa e resistem muito à ideia de reconhecer o erro e contar a verdade. É então que se insinua a mentira como uma tentação para se livrar do problema. Ao agir desta forma transformam um escândalo sério e perigoso, mas ao qual pode-se sobreviver, numa situação política sem saída, letal para a sua carreira.
Este comportamento não é peculiar e privativo de políticos inexperientes. Ao contrário, os casos mais emblemáticos ocorreram com políticos experientes e poderosos, como Clinton e Nixon, nos EUA, e, caso alguém não se lembre mais, com o presidente Lula nos fatídicos casos dos mensalões, caixa dois do Partido dos Trabalhadores e outros abafados e já esquecidos.

Para que o assessor não se deixe enganar, diante de um escândalo, então, a única coisa que não se pode fazer é mentir. É importante recordar que o público, passado o momento inicial de surpresa e decepção, relutam muito em expelir da vida pública um político ou famoso, apenas com base no escândalo que o atingiu. Isto é o que geralmente ocorre com os que gozam de uma boa imagem, como eficientes, dedicados e realizadores. Há muitos argumentos que ajudam a perdoar o erro, mas que aparecem num segundo momento, após o impacto do escândalo.

TIPOLOGIAS

• Fenômenos naturais (inundações, terremotos, etc.).

• Crises relacionadas com a saúde e a alimentação (epidemias, intoxicações).

• Acontecimentos políticos e conflitos sociais (protestos violentos, conflitos políticos e comerciais).

• Acidentes (relacionados com o transporte que afetem o meio-ambiente, incêndios, vazamentos químicos).
• Eventos de origem criminal (seqüestros, assassinatos, sabotagens).

• Assuntos jurídicos (de discriminação racial, de abuso sexual, plágio).

• Fatos de tipo econômico (bancarrota, fraude, corrupção).

• Retirada de produtos (defeitos de fabricação, por utilizar substâncias proibidas na elaboração).

• Ataques informáticos (vírus, entrada de hackers a sistemas).

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