terça-feira, 6 de outubro de 2009

JORNALISMO, PUBLICIDADE E RP



No âmbito da comunicação institucional é latente o debate sobre quem pode ou quem está capacitado a fazer assessoria de imprensa. De acordo com a Resolução Normativa de n.º 43, do Conselho Federal de Relações Públicas (Conferp), de agosto de 2002; jornalistas não podem redigir textos para informativos, produzir house organs, revistas ou press releases em assessorias de comunicação. Portanto, jornalistas não poderiam ser assessores de imprensa.

Não é de hoje que jornalistas e relações públicas se digladiam, acusando-se de estarem invadindo o território alheio. A despeito desse prognóstico, todos os anos faculdades de Comunicação Social despejam centenas de pessoas ditas “qualificadas” ao exercício de publicidade, relações públicas e jornalismo em um mercado já saturado, porém ávido por profissionais realmente habilitados a desenvolverem as funções às quais se propõem.

A questão é: como reunir as três áreas em um só setor sem que se tenha de fazer três contratações? Se uma pesquisa realizada pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em meados de 1999, já indicava que 60% dos cargos nas assessorias eram ocupados por jornalistas, especialmente em São Paulo, Ceará, Rio de Janeiro e Distrito Federal; imaginemos a dimensão do problema a que estamos expostos nos dias atuais em que esse índice se apresenta maior ou equivalente.

Atualmente, novas pesquisas apontam um aumento significativo nesse percentual de jornalista que fazem trabalho de assessores de imprensa, decorrente do racionamento nas redações. Se dia após dia jornalistas estão migrando para as assessorias de comunicação e se mais da metade dos jornalistas em atividade no País estão trabalhando em assessorias de comunicação, logo jornalistas estariam exercendo a profissão de RPs ilegalmente?

Audálio Dantas, renomado jornalista e escritor, ex-presidente da Fenaj e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, bem como ex-deputado federal (PMDB-SP); em artigo publicado no Jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (edição n.º 264 - maio de 2004), viu com preocupação a decisão da Conferp, que então orientara os conselhos estaduais da categoria a aplicarem pesadas multas às assessorias pelo emprego de jornalistas, a pretexto de assegurar reserva de mercado a seus representados.

“É preciso lembrar que a realidade do mercado levou a esse compartilhamento, independente de leis e decretos. Hoje, a comunicação institucional exige a atuação de profissionais de diferentes segmentos... Não se pode ignorar o fato de que a legislação que regula o exercício profissional nas áreas de jornalismo, relações públicas e publicidade é conflitante. Mas a confusão legal não deve ser pretexto para que os trabalhadores dos três segmentos se envolvam numa guerra, como parecem pretender alguns dirigentes de conselhos de RP”.

É indiscutível que esse processo de desenvolvimento da comunicação institucional reivindica não somente qualificações próprias de jornalistas, quando se refere ao trato da informação de interesse público; como também a habilidade de relações públicas e de publicitários, já que todos estão envolvidos com o tratamento da imagem de uma instituição perante setores internos e externos. No ponto de vista de Audálio, “pode-se afirmar que o sucesso das assessorias de comunicação, hoje, resulta da soma do conhecimento específico dos profissionais dos diferentes segmentos”.

Mas para atender as necessidades do mercado, o assessor de imprensa competente não pode ser apenas um jornalista ou um relações públicas, mas um comunicador mutimídia e, como tal, precisa ter conhecimentos que envolvam todas as áreas da comunicação social. Mesmo porque tanto jornalistas quanto relações públicas e profissionais de marketing ostentam em suas paredes o mesmo diploma de graduação em Comunicação Social, sendo diferenciados por um detalhe: a habilitação.

Enxergando as necessidades reais de uma empresa no que diz respeito ao seu setor de comunicação, e mais ainda, no que se convencionou chamar de “assessoria de imprensa”, é fácil perceber que o ideal seria a existência de um curso específico para formação de profissionais com essa especialidade, como ocorre na França, na ENAP – École Nationale dês Attacheés de Presse.

Resta aos RPs, jornalistas e publicitários que atuam em assessorias de comunicação compreenderem que são inúteis os desgastes diários em discussões sobre quem faz assessoria de imprensa sem estar habilitado para o trabalho.

Do mesmo modo, são infrutíferos os protestos contra quem escreve, fala e produz o que quer, sem o mínimo de conhecimento e responsabilidade com a informação. Infelizmente, será preciso conviver com o trabalho informal de pseudoprofissionais por, sabe-se lá, quanto tempo ainda. De qualquer modo, antes de discutir o assunto o mais racional é esperar até que haja um disciplinamento ou redefinição do sistema comunicacional brasileiro.

Será que ainda veremos isso acontecer?

Um comentário:

  1. Antônio, historicamente, a profissão de Relações Públicas emergiu graças, em partes, à comunicação institucional, sua atuação é voltada para este mercado. Acredito que a junção dos três profissionais (Jornalistas, RP´s e Publicitários) ainda é o mais benéfico, até mesmo para o próprio assessorado. O que mais me entristece é que eu, enquanto RP, não posso atuar, por exemplo, como repórter de TV, pois não me formei para isso, mas o jornalista pode atuar livremente em uma área de RP?. Sabe-se que isto acontece por causa do restrito mercado de trabalho do jornalista, que, com medo do desemprego, migrou para a área institucional, indo contra o que rege sua profissão, vide que, em países como os EUA, jornalista que atua em assessoria de imprensa perde seu direito de exercício profissional enquanto se mantiver em tal função. Seu limite acaba quando começa o do outro.

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