quinta-feira, 8 de outubro de 2009

"ENCARANDO DE FRENTE" O POBREMA

Para quem aspira ter um bom desempenho diante das câmeras ou microfone, além do entendimento da linguagem da mídia, é preciso treinamento. A prática de falar diante do espelho, de uma câmera amadora de vídeo ou no gravador produz resultados fantásticos. Por meio desse procedimento é possível detectar e corrigir falhas grotescas como vícios de linguagem e expressões corporais e faciais que jamais pensamos possuir.

Aliás, se existe algo que rende exaustivos escárnios no meio jornalístico são as gafes com a língua pátria, principalmente quando são praticadas por agentes que têm o Português como ferramenta de trabalho. Eis alguns dos exemplos que circulam amplamente pela internet e que mesmo assim são praticados:

- “Haja visto” - pretende-se dizer “haja vista”, que tem o mesmo sentido do termo “ponto de vista” (já que não existe “ponto de visto”);

- “Ao par de” - é um erro crasso de gramática quando o que se pretende, na verdade, é dizer “a par”;

- “Meia informada” - se uma pessoa não está a par de alguma situação, pode estar “meio” informada, mas nunca meia “informada”;

- “Para mim não errar” - para “eu não errar”, por mais que possa parecer estranho, é a forma correta;

- “Ao encontro de” e “de encontro a” - equívoco muito comum quando se pretende pronunciar que um “projeto vai ao encontro dos anseios da comunidade”, a favor, atende à reivindicação da comunidade. De encontro seria um projeto que vai contra os anseios, que contraria a vontade do povo;

- “Eu, enquanto jornalista...” - o correto seria “na qualidade de jornalista”. Erro muito comum quando se pretende falar elegantemente;

- “Fazem muitos anos” - frase comumente observada em entrevistas informais com celebridades na tevê, quando o certo é “faz muitos anos”;

- “Há dez anos atrás” - na música de Raul Seixas é aceitável, mas não na linguagem, ainda que coloquial, do jornalista. O correto é “há dez anos” ou somente “anos atrás”;

- “Éramos em oito na reunião” - “Éramos oito” é o correto.

Além da muleta lingüística “a nível de”, outro infeliz modismo se impregnou à fala comum brasileira. Mais freqüentemente usados por profissionais de telemarketing, os gerúndios ganharam uma expressividade bastante incômoda. Pode ter sido uma contaminação das expressões em Inglês como o we'll be sending (ao pé da letra, “estar enviando”) que na tradução em Português é somente enviar. Em vez de “vou estar ligando” ou até “vou tá telefonando”, basta dizer “vou ligar” ou “vou telefonar”.

O pleonasmo, outro vício de linguagem comum, tem como exemplos clássicos os famosos “subir para cima” e “descer para baixo”. Mas há outros até inconscientemente praticados como: elo de ligação; acabamento final; prêmio extra; duas metades iguais; vereador ou prefeito da cidade (“prefeitura municipal” é outra redundância); outra alternativa; detalhes minuciosos; a razão é porque; anexo e conviver junto; superávit positivo; todos foram unânimes; fato real; encarar de frente; multidão de pessoas; retornar de novo; surpresa inesperada; planejar antecipadamente; abertura inaugural; continua a permanecer; última versão definitiva; possivelmente poderá ocorrer; comparecer pessoalmente; gritar bem alto; propriedade característica; demasiadamente excessivo; critério pessoal; exceder em muito.

Existem tantos vícios na nossa língua portuguesa que se pudéssemos enumerar descobriríamos que alguns já até se incorporaram ao nosso linguajar. É o caso dos verbos que acabam em “ilizar”, como “reinicializar” em vez de “reiniciar” e “utilizar”, em vez de “usar”. “Deletar”, “startar” e “formatar” devem ser igualmente “deletados” do nosso vocabulário.

Quem concede uma entrevista para a tevê, deve ter, além de tranqüilidade, desembaraço e ser bem e bom falante. O falar bem e objetivamente favorece a edição do vídeo. Repórteres preferem falar com um entrevistado experiente, equilibrado e “tagarela”, ainda que o personagem tire proveito das aparições na mídia para se projetar politicamente. No entanto, para evitar a repetição de personagens, é prudente haver mais de uma pessoa com habilidades para a “telinha”.

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